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25 de abril de 2015

A liberdade de ser quem sou


A liberdade tem dois lados.
Tenho que estar livre de quaisquer situações e apegos que me derrubam ou me seguram para trás. Também tenho que ser livre para poder expressar meu verdadeiro potencial.
Quando criança, eu adorava ir às praias desertas. Ficava horas olhando as gaivotas que brincavam e deslizavam felizes. Me perguntava “por que os adultos em volta eram tão complicados e pesados por suas próprias decisões?”. Mesmo nessa idade tão jovem, eu também estava preso por muitas coisas que não queria fazer. Muito mais tarde, entendi que a sensação de liberdade das gaivotas estava conectada à sua proximidade de ser o mais natural possível. Em outras palavras, elas estavam apenas sendo elas mesmas. Da mesma forma, a grama cresce sem qualquer esforço. Nuvens se formam, a chuva vem, o sol brilha. A natureza se desenrola em uma sinfonia inexorável do que ela é.
Jean-Jacques Rousseau, o filósofo francês, foi o inventor provável do clichê, “de volta à natureza”. Embora ele mesmo não tivesse conseguido voltar, ele vendia a ideia de forma tão eloquente. Ele expressou este estado com estas palavras: “o homem nasce livre e por toda a parte encontra-se a ferros”. Gerações de pessoas têm procurado a paz e a tranquilidade, longe das ramificações urbanas em suas tentativas de voltar à natureza, pelo menos nos fins de semana. É como se aquela natureza convocasse a nossa natureza interna para um encontro, para haver um melhor entendimento entre as ambas.
Um dos maiores paradoxos é que a liberdade faz parte da natureza original da própria alma. Antes de virmos a esta dimensão física, não temos pensamentos e até mesmo não temos relacionamentos com ninguém e nada. Nesse sentido, somos livres ‘de fábrica’. Então, bate a saudade por uma sensação de liberdade espiritual, quando nós não a temos mais.
Um dos ensinamentos do budismo é que este mundo é um lugar de sofrimento e de que temos de nos tornar livres das garras da roda interminável de renascimento. Fazemos isso através de levar uma vida moralmente correta, de sermos conscientes e sábios no uso de nossos pensamentos, palavras e ações.
Jesus disse que a verdade nos liberta. Mesmo que isso possa soar ingênuo para alguns, é bastante profundo. Não é só uma questão da liberdade, que é o nosso bem mais precioso, mas a compreensão dela. Se colocamos um pássaro em uma gaiola, ou contemos um cão brincalhão com uma correia, vamos observá-los tentando sair imediatamente. Da mesma forma, ser verdadeiro comigo, com as minhas qualidades interiores profundas e na minha relação com o Divino, vai me mostrar automaticamente como manter-me livre ao fazer as coisas e interagir com os outros.
Há uma história sobre um homem rico que tinha um negócio extremamente lucrativo que o mantinha ocupado sete dias por semana. Ele estava tão ocupado que aquilo tinha começado a afetar sua saúde. Ele veio de uma família pobre e seu irmão ainda era um simples pescador. Um dia ele perguntou por que este irmão não poderia trabalhar mais para ganhar mais dinheiro. A troca foi assim:
- Por que eu iria querer trabalhar mais? Eu já tenho tudo o que preciso.
- Se você trabalhar mais, você seria capaz de comprar um outro barco e talvez alugar para outros. Assim, poderia ter outros trabalhando para você.
- Por que eu faria isso?
- Para ganhar mais dinheiro.
- Por que eu iria precisar de mais dinheiro. O que eu ganho é suficiente para pagar todas as minhas despesas.
- Mas se você tivesse mais dinheiro você poderia ser muito mais livre economicamente. Talvez você pudesse comprar outra casa em algum lugar onde você poderia ir e relaxar.
- Mas eu já estou relaxado. Minha vida é simples, fácil e livre.
O significado desta história não é que todos temos que nos tornar simples pescadores. É que temos de organizar nossas vidas de acordo com as nossas necessidades reais, e não as imaginadas.
Certa vez, com um grupo de executivos em Sri Lanka, lhes pedi para para visitar a selva ao redor de onde estávamos acampados, apenas observar o que estava acontecendo no presente e escrever a experiência em seus cadernos. Uma vez que todos estariam sentados sozinhos, lhes pedi a falar em voz alta com a natureza – com as árvores, pedras, folhas, insetos, nuvens, córregos ou o que quer que estivesse na sua frente - e ver o que eles poderiam aprender. Um deles voltou com uma compreensão incrível sobre árvores - como todas crescem em direção à luz, mas que não monopolizam o espaço. À medida que novas árvores apareçam, as mais velhas simplesmente se movem um pouco para o lado para que as novas também desfrutassem da luz.

Tudo isso nos remete à questão fundamental de "quem sou eu?" - o ‘teaser’ eterno para mentes questionadoras. No Alcorão é dito que Deus deu inteligência aos anjos e apetite aos animais. Para os seres humanos Ele deu os dois - inteligência e apetite. É justamente nestes dois pontos aonde ficamos presos. Desenvolvemos o que achamos que é a inteligência e entramos em todos os tipos de amarras. Obedecemos os nossos apetites e nos tornamos prisioneiros dos objetos dos sentidos. Como pássaros segurando em galhos das árvores, oramos a Deus para nos libertar de toda a bagunça que conseguimos criar para nós mesmos. O Divino então nos olharia e diria “que não são os galhos que nos seguram, mas que nós os agarramos”.

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