Recentemente, fui convidado para a cidade de Santa Maria, no sul do
Brasil, por um grupo de cidadãos e funcionários públicos para conversar com
eles sobre o tempo em que vivemos. Foi o lugar onde 250 jovens perderam suas vidas
em um incêndio numa boate em janeiro de 2013.
É algo muito difícil esquecer as cenas de horror que apareceram,
especialmente para as famílias que perderam entes queridos. Sabemos que a vida
é dura, que as tragédias acontecem - algumas evitáveis e outras não. Prédios
caem, navios afundam, terremotos e tsunamis destroem. Neste caso, foi uma série
de erros humanos, tanto anterior ao evento, como no dia do desastre. A lista de
irregularidades que contribuíram para o fato é longa:
- Havia superlotação
naquela noite.
- O vocalista segurou um
artefato pirotécnico aceso no palco.
- As faíscas atingiram a
espuma do teto e deram início ao fogo.
- O extintor de incêndio do
lado do palco não funcionou.
- A saída foi insuficiente para tanta gente.
- Etc. etc.
Como sempre, quando tais desastres humanos acontecem, ficamos segurando
os pedaços de uma triste realidade e lembranças do que poderia ter havido.
Apesar do sofrimento, a vida continua. Não obstante, temos uma dívida com
aqueles que pereceram – extrair as lições certas, tanto técnicos e humanos.
Podemos punir aqueles que precisam ser punidos. Podemos lamentar as
vidas perdidas. No entanto, a maior homenagem a estes seres que deixaram seus
corpos no incêndio, é aprender todas as lições que podemos a fim de evitar
desastres semelhantes no futuro. Infelizmente, não há nenhuma garantia que será
assim.
Como sempre em situações deste tipo, corremos atrás do prejuízo.
Seguimos a frase de Emerson em cima ao pé da letra. Por todo o país, prefeituras se mobilizaram para
revisar alvarás de casas noturnas e outros ambientes fechados para aumentar a segurança. Mas, a retrospectiva
e suas lições só nos servem se formam a base de uma perspectiva futura nova e mais
abrangente, baseada em escolhas mais sólidas. Não adianta nada ficar no tempo
do verbo irreal – “se tivéssemos ou não tivéssemos feito algo, poderíamos ter
evitado este desastre”. Aconteceu. Vamos em frente, mas mais conscientes.
Na palestra, lembrei o começo do livro clássico de Charles Dickens, Um Conto de Duas Cidades, sobre a época
da Revolução francesa em contrastava Londres com Paris:
"Foi o melhor dos tempos, foi o
pior dos tempos. Foi a idade da sabedoria, foi a idade da tolice. Foi a época
da fé, foi a época da incredulidade. Foi a estação da luz, foi a estação das
trevas. Foi a primavera da esperança, foi o inverno do desespero. Tínhamos tudo
diante de nós, tínhamos nada diante de nós...”
Esta frase mostra as escolhas que temos em todas as época e mais especialmente o tempo em que vivemos hoje.
É crucial aprendermos identificar as opções de vida que temos entre o melhor e
o pior e como desenvolver o poder de discernir que é a base de fazer as escolhas certas. O poder interior vem da prática de meditação e reflexão pessoal que nos
ajuda pensar menos e pensar melhor.
Alguém que tentar ver o mundo apenas pelo buraco de seus interesses
egoístas acabo no vendo o mundo como ele é, mas como o ego manda. Se abrimos
nossa perspectiva, naturalmente vemos mais. Se vemos mais entendemos mais e
escolhemos melhor.
Num ano como este que passou, não consigo pensar num maior presente para
alguém de qualquer idade que o poder de discernimento. Estamos sendo
bombardeados com informações verbais, visuais e por escrito de maneira
constante. Um ser humano que vive numa grande cidade fica sabendo mais num
único dia que alguém da época da revolução francesa ficou sabendo em toda sua
vida. Além disso, há um buffet contínuo de ofertas para os sentidos. Com tantos
variedades de produtos, serviços, cursos, formas de diversão fica difícil saber
o que quer e navegar bem por um mar de verdades e falsidades de todos os lados.
O poder de discernir é a capacidade de enxergar a diferença entre duas
ou mais situações ou objetos. Assim, acaba sendo como uma grande bússola nestes
tempos conturbados. Assim, se torna uma das armas mais poderosas de sucesso,
não apenas nas nossas vidas pessoais, mas certamente na nossa formação
profissional.
Finalmente, se tivermos o poder de discernir, podemos escolher como, onde e com quem celebrar a vida.
Sydney Carton, o herói de Um Conto de Duas Cidades, depois de ter trocado de lugar com um amigo, que estava para morrer na guilhotina, disse pouco antes de o machado cair: "É uma coisa muito, muito melhor que faço, do que eu já fiz, é um descanso muito, muito melhor que eu vá para que eu já conheci."
Até o último suspiro, escolhemos o nosso caminho..
Sydney Carton, o herói de Um Conto de Duas Cidades, depois de ter trocado de lugar com um amigo, que estava para morrer na guilhotina, disse pouco antes de o machado cair: "É uma coisa muito, muito melhor que faço, do que eu já fiz, é um descanso muito, muito melhor que eu vá para que eu já conheci."
Até o último suspiro, escolhemos o nosso caminho..
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