Vivemos num mundo superespecializado. Basta dar uma olhada na
área da saúde: há especialistas para cada parte do corpo (olhos, ouvidos,
nariz, rosto, ossos, sangue e assim por diante). No campo das emoções há
especialistas para fobias, manias, síndromes, inter-relações. A lista é interminável.
A legislação tornou-se tão complexa que até mesmo para coisas simples
precisamos consultar um advogado. Lembro-me de falar com o presidente da câmara
de vereadores de São Paulo, quando fui dar uma palestra há alguns anos e ele
disse-me que seu objetivo era reduzir as 11.000 leis municipais para 8.000
dentro de um período de dois anos. Tudo na nossa vida parece ser regulado, mas
em meio ao caos de São Paulo as coisas certamente não parecem funcionar de uma
forma regulada.
Como nos tornamos especialistas em diferentes fragmentos da
realidade, provavelmente perdemos de vista como tudo se encaixa. Além disso,
passamos a depender quase totalmente daqueles que são apenas especialistas em
fragmentos. No poema A Rocha (1934) T. S. Eliot
expressa isso muito claramente:
O infinito ciclo das ideias e
dos atos,
infinita invenção,
experimento infinito,
traz conhecimento da
mobilidade, mas não da quietude;
conhecimento da fala, mas não
do silêncio;
conhecimento das palavras e
ignorância da Palavra.
Todo o nosso conhecimento
aproxima-nos de nossa ignorância,
toda a nossa ignorância
aproxima-nos da morte,
mas a aproximidade da morte
não nos aproxima de Deus.
Onde está a vida que perdemos
em viver?
Onde está a sabedoria que
perdemos no conhecimento?
Onde o conhecimento que
perdemos em informação?
Na busca de um significado mais profundo para as peças de
quebra-cabeça da vida, podemos ficar intimidados pela forma com que os
especialistas são valorizados em nossa sociedade. Muitos acreditam que eles
precisam de um diploma e anos de experiência antes de fazer algo importante.
Isto pode ser verdade, em alguns casos. Nós certamente precisamos ter estudado
sobre cirurgia para poder realizá-la. Quem iria querer ser representado em uma
questão legal complicada por alguém que não tivesse as qualificações e a
experiência necessárias? No entanto, quando se trata de questões relacionadas
ao viver e interagir com o mundo, as únicas qualificações que precisamos são a
sensatez, a curiosidade e a determinação.
Vários anos atrás, tive a ideia de criar um DVD com sequências
de meditação visual e música de fundo. Não haveria palavras, o que tornaria o
projeto incrivelmente acessível. Sem palavras significa sem traduções. Como
seres humanos, a maior parte da nossa comunicação está conectada com os
sentimentos e vibrações e o fato de que temos aspirações comuns relacionadas ao
amor, à paz e à felicidade. As palavras são, por vezes, até mesmo supérfluas.
Então, eu percebi que, se preparasse alguns vídeos simples e os deixasse
disponíveis, as pessoas iriam se interessar.
Não sou um especialista em design gráfico nem em produção de
vídeos. Na verdade, considero-me apenas um leigo nessas áreas. Sem
me incomodar com minha falta de experiência, preparei uma demonstração e a
entreguei para um amigo na Índia, que posteriormente a postou no Youtube.
Agora, alguns anos depois, esta inspiração simples já foi vista 3.246.644 vezes
(no dia da postagem deste blog). Se você está interessado, clique neste link.
Realmente, você não precisa ser um especialista para fazer algo
interessante e para o benefício dos outros. Além disso, não temos que nos
perder mais nos fragmentos.
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