Entrevista que fiz para o portal UOL no Brasil:
Meditar reduz o estresse e afasta doenças; veja mitos e verdades (09/12/13)
Meditar está deixando de ser uma prática restrita à
turma "zen" para se tornar uma opção para quem quer viver mais e
melhor. Até executivos têm buscado a prática para ganhar produtividade. Há
alguns anos, o National Institutes of Health (NIH), agência dos Estados Unidos
responsável por pesquisas médicas, reconheceu formalmente a meditação como
terapêutica que pode ser associada à medicina convencional. Aqui, o Ministério
da Saúde foi pelo mesmo caminho e passou a incentivar postos de saúde e
hospitais públicos a oferecer a técnica em todo o país. Uma das maiores
vantagens da atividade é promover o relaxamento físico, mental, emocional e
metabólico. Durante a sessão, o organismo consome 17% menos oxigênio, o ritmo
cardíaco diminui e as ondas cerebrais alcançam uma frequência lenta e benéfica.
Isso significa que o organismo entra em um estado de repouso, baixando a
ansiedade e favorecendo o sistema nervoso.
Mais meditação, menos consultas
O cardiologista americano Herbert Benson, pesquisador
e fundador-presidente do Instituto Mente/Corpo da Faculdade de Medicina da
Universidade de Harvard (EUA), afirma que 60% das consultas médicas poderiam
ser evitadas se as pessoas apenas usassem a mente para combater as tensões
causadoras de complicações físicas. “Relaxando a cabeça e trabalhando melhor a
oxigenação do cérebro, tudo melhora”, afirma Ken O’Donnel, australiano radicado
no Brasil, diretor para a América do Sul da Brahma Kumaris (organização
não-governamental com sede na Índia) e escritor de 15 livros. A meditação
também promove paz interior e abre os canais para que o indivíduo encontre o
que há de mais profundo nele próprio, levando ao autoconhecimento. No livro
"Transformando a Mente", o líder espiritual Dalai Lama explica que a
prática nos permite ter algum controle sobre pensamentos e emoções. Em vez de
ficar correndo atrás disso ou daquilo sem concentrar a atenção, alcançamos a
capacidade de voltar a mente para um objeto determinado e focamos nele, de
acordo com nossa vontade.
Várias correntes
Basicamente, conta O'Donnel, há três correntes de
meditação: a primeira, como a zen, busca esvaziar a cabeça usando exercícios de
respiração e outras técnicas para reduzir a atividade mental a zero; a segunda,
que inclui a transcendental, ocupa a mente com sons repetidos, imagens ou visualizações;
o último grupo, que abarca a "raja" ioga, treina o cérebro para
funcionar de maneira mais ordenada e positiva. "De maneira geral, as três
linhas englobam todas as formas que hoje estão aí. A mente é como um campo de
futebol: as duas primeiras reduzem ao máximo a atividade neste campo,
desestimulando pensamentos, sentimentos, sensações e lembranças; a terceira não
objetiva esvaziar ou substituir, mas tornar a compreensão parte do
funcionamento normal do cérebro". Antes de optar por esta ou aquela
corrente, é importante saber o que se busca e, claro, dedicar-se à prática de
maneira regular. Isso significa pelo menos duas sessões diárias, de 15 a 20
minutos. Vale lembrar que a transcedental não tem cunho religioso ou
espiritual. Basta se sentar (e não precisa ser nem em posição de lótus) e
meditar. Nas diferentes academias de meditação e ioga, você vai encontrar
alguns tipos com nomes como Dinâmica, Kundalini, Mandala, Vipassana - vale
experimentar para ver qual tem mais a ver com você.
Mente clara, menos estresse
“A meditação tem como objetivo o estado de união com
algo maior”, acredita Paulo Sérgio Oliveirah, pós-graduado em Psicologia
Transpessoal, consultor e psicoterapeuta, professor de "hatha",
"raja" ioga e iogaterapia. Para Ken O’Donnel, aprendemos a pensar
menos e melhor com a prática. “A mente aberta passa a ter intuições com mais
frequência. O poder de concentração e de compreensão igualmente aumentam, e a
vida flui naturalmente. Na hora das decisões importantes, há clareza sobre o
que fazer. Os relacionamentos são beneficiados; não se despeja muita
expectativa e cobrança sobre o outro. A despreocupação – não o descuido – cresce
junto com a autoconfiança. Tudo isso traz bem-estar e qualidade de vida.”
O'Donnel diz que são quatro os níveis de estresse: no primeiro, há uma
ansiedade leve, e muitos o consideram algo saudável, pois torna a pessoa
motivada (para, por exemplo, correr atrás de uma promoção no trabalho); no
segundo, o nervosismo é contínuo e há queixas de sobrecarga e angústia
frequentes; no terceiro, o estresse crônico traz resultados negativos e
explícitos, como irritabilidade e manifestações somáticas (dor de cabeça
relacionada à tensão); já no quarto nível, o indivíduo se sente exausto o tempo
todo, tanto física como emocionalmente, e perdendo o sentido de autorrealização
e ganhando sintomas graves que requerem ajuda médica. “A meditação ameniza o
estresse em todos os patamares por dois motivos: cria mais resistência e
resiliência, especialmente em situações adversas e diante de pessoas com
personalidades difíceis; e auxilia na compreensão do que está acontecendo à
volta, reduzindo o peso das situações”, analiza O’Donnell.
Nenhum comentário:
Postar um comentário