Ao longo dos anos, devo ter falado
com centenas de pessoas que queriam alguma orientação para ajudar-lhes a
enfrentar algum problema pessoal. De uma forma ou de outra, sempre acabávamos
falando sobre autorrespeito. Especialmente nos casos em que a pessoa estava se
sentindo desanimada ou incapaz diante de algum obstáculo, sempre parecia haver
uma incapacidade de reconhecer e sustentar o sentimento de valor próprio.
Logo após o lançamento do livro
"Valores Humanos no Trabalho", fui convidado a ministrar uma palestra
sobre o assunto no Banco Central do Brasil. Como seria televisionada para as
unidades em todo o país, fui lá um dia antes para me certificar de que estava
tudo bem. Quando entrei no prédio em Brasília, alguns cartazes chamaram minha
atenção. Eles tinham lançado uma campanha para que as pessoas tratassem as
notas de dinheiro com maior cuidado. Eles me informaram que poderiam economizar
até 15 milhões de dólares por ano, se as pessoas não maltrassem o dinheiro
impresso. Isso me deu uma ideia sobre o que eu poderia fazer na palestra.
Naquela noite, eu fiz uma fotocópia colorida de uma nota de 100 reais (cerca de
50 dólares na época).
No dia seguinte, após 20 minutos na
palestra eu puxei a nota do bolso e disse que estava me sentindo generoso e que
a daria para quem levantasse a mão primeiro. Cerca de oito pessoas ergueram as
mãos. Com muita cerimônia, eu amassei a nota e perguntei-lhes se ainda queriam.
Eles responderam que sim. Neste momento, uma das organizadoras me olhou de
forma desvairada, como se dissesse: O que você está fazendo? E sobre a campanha?
Indiquei a ela para não se preocupar.
Então, joguei a nota amassada no
chão e pisei nela. Perguntei se eles ainda receberiam a nota de R$100 e
disseram que sim. Finalmente eu a peguei e a rasguei ao meio. No silêncio
atônito, ofereci os dois pedaços ao primeiro que levantou a mão. Como era um
funcionário do banco, ele brincou: ‘Acho que daria para trocá-la no Banco
Central’. Havia um espanto (e alívio) ainda maior, quando anunciei que era uma
nota falsa. (Com uma olhada acalmei a organizadora ansiosa). Expliquei que eu
jamais faria isso com uma nota de verdade. Eu fiz para mostrar a fundação da
autoestima e portanto, de um comportamento baseado em valores. De certa forma,
eu sou como uma nota de dinheiro de verdade. Não importa o que o mundo faça comigo.
Ele pode me amassar. Ele pode me pisotear. Ele pode até mesmo me rasgar ao
meio. Mesmo assim, meu valor intrínseco não muda.
O autorrespeito é, sobretudo,
conhecer e agarrar-me ao meu próprio valor. Há aspectos de minha consciência
fundamental que não mudam com as circunstâncias. É como um DNA espiritual.
Mesmo que eu flutue de acordo com as cenas mutantes ao meu redor, certas
qualidades profundas como amor, paz, felicidade e verdade são meu lastro
interno. Elas são parte de mim. Ninguém e nada pode levá-las embora. Eu as
perco, basicamente, porque me esqueço de quem realmente sou. Quando isso
acontece, eu também me esqueço do que é verdadeiramente meu.
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