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17 de outubro de 2013

Ninguém e nada tira meu valor verdadeiro



Ao longo dos anos, devo ter falado com centenas de pessoas que queriam alguma orientação para ajudar-lhes a enfrentar algum problema pessoal. De uma forma ou de outra, sempre acabávamos falando sobre autorrespeito. Especialmente nos casos em que a pessoa estava se sentindo desanimada ou incapaz diante de algum obstáculo, sempre parecia haver uma incapacidade de reconhecer e sustentar o sentimento de valor próprio.

Logo após o lançamento do livro "Valores Humanos no Trabalho", fui convidado a ministrar uma palestra sobre o assunto no Banco Central do Brasil. Como seria televisionada para as unidades em todo o país, fui lá um dia antes para me certificar de que estava tudo bem. Quando entrei no prédio em Brasília, alguns cartazes chamaram minha atenção. Eles tinham lançado uma campanha para que as pessoas tratassem as notas de dinheiro com maior cuidado. Eles me informaram que poderiam economizar até 15 milhões de dólares por ano, se as pessoas não maltrassem o dinheiro impresso. Isso me deu uma ideia sobre o que eu poderia fazer na palestra. Naquela noite, eu fiz uma fotocópia colorida de uma nota de 100 reais (cerca de 50 dólares na época).

No dia seguinte, após 20 minutos na palestra eu puxei a nota do bolso e disse que estava me sentindo generoso e que a daria para quem levantasse a mão primeiro. Cerca de oito pessoas ergueram as mãos. Com muita cerimônia, eu amassei a nota e perguntei-lhes se ainda queriam. Eles responderam que sim. Neste momento, uma das organizadoras me olhou de forma desvairada, como se dissesse: O que você está fazendo? E sobre a campanha? Indiquei a ela para não se preocupar.
Então, joguei a nota amassada no chão e pisei nela. Perguntei se eles ainda receberiam a nota de R$100 e disseram que sim. Finalmente eu a peguei e a rasguei ao meio. No silêncio atônito, ofereci os dois pedaços ao primeiro que levantou a mão. Como era um funcionário do banco, ele brincou: ‘Acho que daria para trocá-la no Banco Central’. Havia um espanto (e alívio) ainda maior, quando anunciei que era uma nota falsa. (Com uma olhada acalmei a organizadora ansiosa). Expliquei que eu jamais faria isso com uma nota de verdade. Eu fiz para mostrar a fundação da autoestima e portanto, de um comportamento baseado em valores. De certa forma, eu sou como uma nota de dinheiro de verdade. Não importa o que o mundo faça comigo. Ele pode me amassar. Ele pode me pisotear. Ele pode até mesmo me rasgar ao meio. Mesmo assim, meu valor intrínseco não muda.

O autorrespeito é, sobretudo, conhecer e agarrar-me ao meu próprio valor. Há aspectos de minha consciência fundamental que não mudam com as circunstâncias. É como um DNA espiritual. Mesmo que eu flutue de acordo com as cenas mutantes ao meu redor, certas qualidades profundas como amor, paz, felicidade e verdade são meu lastro interno. Elas são parte de mim. Ninguém e nada pode levá-las embora. Eu as perco, basicamente, porque me esqueço de quem realmente sou. Quando isso acontece, eu também me esqueço do que é verdadeiramente meu.



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